20 de Julho, Sexta - Porto Covo
A honra de abertura cabe aos portugueses. Às 21h30, os Galandum Galundaina iniciam as hostilidades. Trazem-nos os efeitos visuais dos grupos de pauliteiros, cantam e tocam a gaita-de-foles mirandesa, a flauta pastoril, a sanfona e outros instrumentos tradicionais e recriam melodias, gestos e palavras preservadas durante séculos no isolamento das terras de Miranda (Trás-os-Montes).
Às 23h00, Darko Rundek, da Croácia, actua com a sua Cargo Orkestar, uma banda constituída por oito músicos de diversas origens e que até inclui um franco-português. A Orkestar mistura dolentemente os Balcãs com a Europa Central, a América do Sul, a África e a electrónica, adornados pela voz rouca de Darko Rundek em cantos que tratam de viagens e da solidão na imensa aldeia global.
Combinando sabiamente as culturas dos Tuaregs e dos Woodabe, sem lhes retirar o carácter essencial de cada uma delas, os Etran Finatawa do Níger, actuam às 00h30, encerrando da melhor maneira o primeiro dia do Festival. À semelhança do que fizeram os vizinhos malianos Tinariwen e Tartit, os Etran Finatawa, que significa “as estrelas da Tradição”, misturam instrumentos tradicionais com guitarras eléctricas, fundem cantos polifónicos das tribos nómadas com arranjos modernos e casam canções curativas e as caminhadas dos camelos do Sahara com repertórios urbanos.
21 de Julho, Sábado - Porto Covo
Às 21h30, no segundo dia do FMM, o americano Don Byron, um dos mais importantes clarinetistas da actualidade, eleito músico de jazz do ano de 1992 pela insuspeita Down Beat, traz a Porto Covo "Do The Boomerang", o disco de 2006 que visita uma figura pioneira, mas algo esquecida, da soul dos anos 60, o saxofonista e cantor Junior Walker.
Às 23h00, actua a cantora griot Mamani Keita, uma das melhores vozes de África. A carreira musical de Mamani começa em Bamako, mas é em França que conhece o sucesso. Apoiada pelo guitarrista francês Nicolas Repac, traz-nos a Sines a música tradicional do Mali e a riqueza de cambiantes de uma voz excepcional, adornada pela electrónica. A tradição e a modernidade num delicadíssimo universo sonoro para nos deliciar.
Às 00h30, a música tradicional e o rock experimental numa fusão inesperada, encerram o segundo dia do Festival. Eleitos a melhor nova banda da Rússia em 2002, os Deti Picasso, constituídos por dois arménios e três russos, misturam melodias de canções tradicionais da Arménia com rock da Rússia e alternam momentos plácidos, quase ambientais, com explosões psicadélicas, altamente contagiantes.
22 de Julho, Domingo - Porto Covo
No último dia do FMM em Porto Covo, começam por actuar, às 21h30, os húngaros Djabe, o mais premiado e reconhecido internacionalmente dos grupos de jazz do leste europeu, com aproximações à World Music. Do seu repertório fazem parte uma mistura de música improvisada, da tradição popular húngara, de padrões rítmicos de vários locais do mundo e até de referências ao rock progressivo dos anos 70.
Às 00h30, os ucranianos Haydamaky encerram as hostilidades em Porto Covo, com um cruzamento de reggae, punk e música tradicional. Nascidos em 1991, ainda como “Aktus”, os Haydamaky começaram no rock, evoluíram para os domínios do ska e do punk e, em 1993, com a entrada de Olexandr Yarmola, cantor e tocador da flauta “sopilka”, e Ivan Len’o, acordeonista, aproximaram-se das músicas tradicionais da Ucrânia e enveredaram por uma música de fusão de todas essas correntes.
23 de Julho, Segunda – Centro de Artes (Sines)
No primeiro dia do FMM em Sines, começa por actuar, às 21h30, o francês Marcel Kanche, poeta, compositor, guitarrista exímio e uma voz a meio caminho entre Gainsbourg e Cohen. No Centro de Artes, em ambiente sereno, estruturado por um ensemble acústico de instrumentos como o violoncelo, o acordeão e o piano, Marcel dará um concerto entre a chanson française, o jazz, o rock progressivo e o punk.
Às 23h00, duas irmãs gémeas do País Basco, as Ttukunak, dão vida nova à “txalaparta”, um instrumento de percussão com uma história de 2000 anos, feito de tábuas e vigas de metal de dois metros de comprimento, percutido por ripas de madeira. Com um som semelhante ao galope de um cavalo, a “txalaparta”, foi, com o tempo, ganhando complexidade rítmica. Deve, no entanto, ser tocada por duas pessoas ao mesmo tempo e as suas intérpretes actuais mais conhecidas são precisamente as gémeas Ttukunak, que abordam o instrumento de forma contemporânea, inovando nos ritmos e apostando na improvisação.
24 de Julho, Terça – Centro de Artes (Sines)
O segundo e último dia do FMM no Auditório do Centro de Artes é marcado pelos regressos. Às 21h30, começa por actuar Lula Pena, uma das mais comoventes vozes da música portuguesa. Entre o jazz e o fado, a pop e a soul, a música brasileira e a música árabe, o mistério e a alma de uma voz algo enigmática, mas absolutamente imperdível, reverar-se-á num concerto intimista.
Às 23h00, o músico bretão Jacky Molard e o seu Acoustic Quartet trazem-nos todo o universo da música celta e da improvisação. O violino de Jacky Molard tocado no modo irlandês, o contrabaixo de Hélène Labarrière, o saxofone de Yannick Jory e o acordeão diatónico de Janick Martin prometem um concerto dinâmico, onde o jazz manouche e elementos balcânicos e orientais se fundem com teias sonoras de eleição.
25 de Julho, Quarta – Castelo e Av. Praia (Sines)
No primeiro dia do FMM no Castelo, começa por actuar, às 21h30, o indiano Trilok Gurtu, o maior percussionista do mundo para a insuspeita Down Beat, que, assim, regressa a Sines, um ano depois. Acompanha-o, desta vez, uma banda composta pelo violinista italiano Carlo Cantini (do Arkè String Quartet), a cantora indo-britânica Reena Bhardwaj (do grupo de Nitin Sawhney), o guitarrista Jan Ozveren (do grupo de Corrine Bailey Rae), o baixista da Reunião Johann Berby e o australiano Phil Drummy (“didgeridoo” e “santoor”).
Às 23h00, é a vez da folk dançante dos Bellowhead, do Reino Unido, a maior revelação da música tradicional britânica no século XXI. Melhor grupo e espectáculo de 2007, na escolha dos Folk Awards da BBC Radio2, a banda é constituída por onze músicos, que tocam acima de 20 instrumentos. As suas canções abarcam as mais diversas influências, desde o cabaret à música brasileira, desde o jazz às sonoridades africanas. As velhas canções e danças tradicionais inglesas ganham, assim, uma extraordinária energia e riqueza tímbrica e harmónica.
Às 00h30, entra em cena, para o último concerto do dia no Castelo, Oumou Sangaré, uma das mais importantes cantoras africanas de sempre. Originária da região do Wassoulou, no sul do Mali, Oumou começou por cantar em festas de rua em Bamako, para se sustentar. Não tendo crescido no seio dos músicos profissionais da corte, os Griots, Oumou afirmou-se pelas suas ideias, preocupando-se em aprofundar os problemas sociais próprios de uma sociedade islâmica (poligamia, compra de noivas, excisão...) e manifestar-se pelos direitos das mulheres, o que lhe valeu uma distinção pela UNESCO. A música de Oumou Sangaré é um feliz cruzamento dos ritmos “Wassoulou” com funk, rhythm n’ blues e afrobeat, adornados por uma voz magnífica e poderosa.
Na Avenida da Praia, às 02h30, a Oki Dub Ainu Band cruza a tradição acústica dos Ainu (povo antigo do Japão, de ascendência mongol, que se bate pela sobrevivência das suas tradições no contexto da cultura nacional dominante) com o "dub-reggae", a electrónica e a música afro-americana. O resultado é uma espécie de música “trance” verdadeiramente global, “completamente diferente de tudo o que já ouviu”, segundo a “Wire”.
26 de Julho, Quinta – Castelo e Av. Praia (Sines)
É na Avenida da Praia que começa a música, a 26 de Julho. Às 19h30, Harry Manx, britânico radicado no Canadá, toca blues, mas fá-lo, entre outros instrumentos, com um híbrido de guitarra indiana e “setar”. O resultado é uma estética a que já chamaram “Mysticssipi”: a força dos blues, pitadas de gospel na interpretação vocal e texturas musicais da Índia.
Já no Castelo, às 21h30, o contrabaixista português Carlos Bica, um dos melhores músicos de jazz da Europa, faz-se acompanhar pelo Trio Azul e pelo DJ alemão Ill Vibe . O seu jazz, a fazer cedências à música erudita, à folk, ao rock e à pop, não são de estranhar, se tivermos em conta o seu percurso de formação clássica, experiência na música improvisada e colaborações com músicos populares.
Às 23h00, num dos momentos mais esperados do FMM, os Tartit, banda Tuareg constituída por cinco mulheres e quatro homens que residem na região de Timbuktu (Mali), evocam com autenticidade a imensidão do deserto do Sahara. A música dos Tartit é uma espécie de Trance hipnótica: as mulheres, sentadas, cantam e tocam ritmos cíclicos nos seus tambores típicos, enquanto os homens cantam e tocam instrumentos de corda acústicos e eléctricos.
Às 00h30, para o último concerto do dia no Castelo, espera-se um dos momentos mais altos do Festival. O etíope Mahmoud Ahmed, considerado pela BBC o melhor músico africano de 2006, traz-nos uma soul exótica, onde se misturam os ritmos circulares de sabor oriental da tradição aramaica, o pop e pitadas de jazz. Indubitavelmente um dos melhores músicos africanos da actualidade.
De novo na Av. Praia, às 02h30, actua o britânico, filho de jamaicanos, Bitty McLean, também
engenheiro de som e produtor. Considerado um dos cantores do reggae actual com mais aproximações à soul, faz-se acompanhar no FMM pelos génios jamaicanos do drum n'bass, Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, a secção rítmica mais importante da história do reggae.
27 de Julho, Sexta – Castelo e Av. Praia (Sines)
A Oceania estreia-se no Festival de Sines, a 27 de Julho. O grupo Aronas, liderado pelo pianista neo-zelandês, radicado no Reino Unido, Aron Ottignon, do qual faz parte também um baterista australiano, um baixista eslovaco e a um percussionista português, actua na Avenida da Praia, às 19h30. A música dos Aronas é uma espécie de jazz enérgico, onde se misturam, naturalmente, as influências dos ritmos nativos da Polinésia.
No Castelo, às 21h30, a presença obrigatória do Brasil no FMM, desta vez com o Hamilton de Holanda Quinteto. Considerado por Hermeto Pascoal "o maior bandolinista do mundo" e pela crítica francesa “O Príncipe do Bandolim”, Hamilton é um animal de palco e toca de forma exuberante um repertório de música popular, erudita e jazz.
Às 23h00, o famoso quarteto de saxofones dos EUA World Saxophone Quartet, depois da presença no FMM em 2001, regressa a Sines para divulgar "Political Blues", um manifesto contra o clima político americano. “Free” jazz recheado de blues e muito funk, aliás como David Murray já nos habituou.
Às 00h30, , um argelino crescido em França, mostra-nos como foi capaz de investir na procura de novas rotas para géneros tradicionais como o rai da Argélia e o chaabi de Marrocos. Com um passado próximo do rock de combate, mercê da fundação, nos anos 80, dos Carte de Séjour, Rachid Taha foi conquistando uma audiência de fiéis dispostos a saborear o embate entre a tradição da música do Magrebe e a modernidade simbolizada pelo rock.
Na Av. da Praia, às 2h30, La Etruria Criminale Banda, um grupo de 15 músicos vai-se empenhar em mostrar uma visão experimentalista e surreal da música tradicional italiana, fundindo, sem o mínimo de atrito, estilos tão diferentes como a tarantela, a música de circo, o tango, o ska e o swing.
28 de Julho, Sábado – Castelo e Av. Praia (Sines)
No último dia do Festival, actua na Avenida da Praia, às 19h30, o grupo bretão, Norkst, uma espécie de «big band» nascida na Kreiz Breizh Akademi (academia de música tradicional da Bretanha), que agrupa alunos e professores desta academia, sob a direcção de Erik Marchand. Os Norkst têm a música e os cantos tradicionais da Bretanha como ponto de partida para uma música aberta e livre em que se junta a improvisação e os solos do jazz às texturas da música oriental.
Às 21h30, no Castelo, a Suiça faz-se representar por Erika Stucky, acordeonista e vocalista com formação em jazz. Acompanha-a a banda Roots of Communication, com instrumentos como a enorme trompa dos Alpes, a bateria e o trombone. A música que fazem é uma mistura de pop, jazz vanguardista e muito “yodel.
De regresso a Sines, o rapper somali K'Naan actua às 23h00, depois de ter sido eleito pela BBC Radio 3 como melhor novo artista de 2006, na área da World Music. "Hip hop" com sabor acústico e africano e poesia de protesto consequente, com marcas dos ritmos e timbres tradicionais, desta vez no Castelo, depois de, no ano transacto, ter actuado na Av. da Praia. Para ouvir de novo e para provar que não foi por acaso que foi considerado a revelação do FMM 2006.
Igualmente premiado pela BBC, mas como melhor grupo das Américas, os Gogol Bordello actuam no Castelo às 00h30. Liderando dois russos no violino e acordeão, duas vozes / percussionistas de ascendência asiática, um guitarrista e um baixista israelitas e um baterista americano, o ucraniano Eugene Hütz fez dos Gogol uma banda que passa depressa da animação de casamentos para uma música de protesto com referências ciganas, punk, dub-reggae, cabaret e klezmer.
Para encerramento, às 02h30, na praia, poderão ouvir e dançar com um dos grupos mais exuberantes e inventivos da World Music, os Señor Coconut and His Orchestra liderados por Uwe Schmidt, produtor e DJ alemão radicado no Chule. Acompanham-nos o cantor venezuelano Argenis Brito. Clássicos da pop electrónica alemã e japonesa tocados com arranjos latinos para entrar, pela noite dentro, nas últimas horas do festival.
Iniciativas Paralelas
Exposição "N'Gola", do fotógrafo angolano Kiluanji.; Ciclo de Cinema com o tema "Música e Trabalho"; conversas com artistas do festival; "Workshops" para as crianças; sessões de DJ.
Mais informações em:
1 comment:
Excelente resumo. Vê-se que percebem da poda. Encontramo-nos lá?
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