Saturday, May 29, 2021

Alhambra (EUA) performs Judeo-Spanish Songs

 Alhambra, fundado em 1981 pela mezzo-soprano americana Isabelle Ganz, é um ensemble sediado em Nova York e especializado no repertório sefardita (judaico-espanhol). Até à data, todos os registos editados pelos Alhambra são dedicados à música tradicional sefardita: “The Art of Judeo-Spanish Song” (1988, Global Village Music), “The Joy of Judeo-Spanish Song” (1995, Aulos/Koch/Schwann), “Alhambra Performs Judeo-Spanish Songs” (1997, Global Village Music) e “Tres Clavinas: Judeo-Spanish Songs of Love, Courtship And Holidays” (2019, Centaur Records).

Na cultura judaica peninsular, o acervo sefardita inclui canções para acompanhar cada celebração da vida, desde a aurora ao crepúsculo (o nascimento, o namoro, o noivado, o casamento...). Canções de embalar, de amor, de desilusão ou humorísticas, bem como relatos da vida quotidiana ou epopeias enchiam de prazer festas familiares, casamentos, ou outras celebrações. Numa aliança primordial, a palavra, a música e a dança aliavam-se nas romarias e em festividades, onde jograis e trovadores, cantadeiras e soldadeiras conviviam e partilhavam a alegria e a tristeza, afetos e conflitos, semelhanças e diferenças, ao som de adufes, violas de arco, saltérios, guitarras, sonalhas…

Depois da diáspora, o repertório que conhecemos como música sefardita, com mais de 500 anos de sobrevivência no exílio, chegou até aos nossos dias por transmissão oral. Isso aconteceu, sobretudo, graças, ao empenho das mulheres que, durante séculos, entoaram essas canções quando realizavam as tarefas domésticas, se ocupavam das crianças, preparavam as festas ou consolavam a dor.

Variadíssimos grupos de diversos locais se têm debruçado sobre os tesouros da música sefardita. Usando estilos vocais e instrumentais autênticos, o ensemble Alhambra apresenta nos seus registos temas da tradição judaico-espanhola da Espanha, dos Balcãs e de países do Médio Oriente e do Norte da África, recolhidos por Isabelle Ganz no Centro de Pesquisa de Música Judaica da Universidade Hebraica de Jerusalém e no Sephardic Home for Aged em Brooklyn (Nova York), bem como por vários etnomusicólogos em Israel e nos EUA.


 


Monday, May 3, 2021

Capella de Ministrers - Cantigas de Santa Maria


“Em 23 de novembro de 2021 completam-se 800 anos do nascimento de um dos raros governantes do passado, cuja fama se deve mais ao seu legado intelectual e cultural que ao político: Afonso X, el Sábio (1221-1284), rei de Leão e Castela. A ele se deve o fabuloso espólio conhecido por Cantigas de Santa Maria, constituído por 426 obras dedicadas à Virgem, que, com os preciosos códices nos quais estão conservadas, constituem indubitavelmente um dos maiores monumentos da música europeia de todos os tempos.

Pela sua coerência temática e formal, pela sua homogeneidade estilística, pelo seu número e até pela beleza dos próprios manuscritos que as contêm (alguns deles com luxuosas miniaturas), a coleção de Cantigas de Santa Maria tornou-se num fenómeno particular na história da música medieval e constitui o cancioneiro com mais variedade de temas acerca da Virgem Maria, em toda a Europa. Os textos poéticos, a música e as imagens dos preciosíssimos manuscritos iluminados, nos quais foram transcritos os louvores à Virgem Maria, os seus milagres e trechos de história sacra chegam, assim, até nós, elucidando-nos sobre a cultura e a sensibilidade do homem medieval.

Para comemorar o 800º aniversário do nascimento de Afonso X, bem como o 10º aniversário da Early Music Morella (Curso e festival especializado em música medieval e renascentista) e o Ano Santo Jacobeu 2021 (celebrado desde o século XII), o ensemble Capella de Ministrers editou este ano uma fabulosa interpretação das Cantigas de Santa Maria. Criado em Valência em 1987 com o objetivo de recuperar o património musical espanhol, o ensemble, sob a direção de Carles Magraner, rapidamente se tornou num dos grupos de referência nos domínios da música antiga vocal e instrumental, contando já no seu currículo 63 registos, alguns deles autênticas obras primas.

A participação de cerca de três dezenas de músicos (entre os quais as extraordinárias Mara Aranda e Begoña Olavide), 19 temas instrumentais e vocais e mais de uma hora de música hipnótica fazem de “Cantigas de Santa María, Alfonso X el Sabio” (CDM, 2021) um dos melhores discos editados este ano, até à data. Mais uma vez, Carles Magraner e a Capella de Ministrers resgatam a música antiga como parte essencial e fundamental da memória coletiva e, com mestria, aproximam-na do nosso tempo.”





Friday, February 5, 2021

Mara Aranda, a magia da voz antiga do Mediterrâneo

 Mara Aranda é natural de Valência e, durante três décadas, tem investigado e interpretado as músicas do Mediterrâneo (sul de Espanha, Turquia, Grécia, Marrocos…) e a música antiga, sobretudo a medieval e a sefardita. Alcançou, assim, uma projeção internacional invejável, tornando-se numa das três extraordinárias vozes femininas do Al Andaluz Project. Em nome próprio, deixou vários discos, quase todos merecedores de prémios e de reconhecimento por parte do público e dos meios de comunicação especializados.


      Da sua discografia, destaca-se Dèria (Galileo-mc), a produção de world music espanhola mais destacada de 2009, tendo sido considerado “o melhor disco de músicas do Mundo do ano”, pela UFi nos Prémios da Música Independente, por votação popular; também o melhor disco pelo programa “Hidrògen”, para a Icat FM; TOP 10 na lista anual da World Music Charts Europe durante 4 meses consecutivos e o único grupo espanhol nos 10 primeiros lugares do resumo anual da lista, além de melhor disco de folk nos prémios Ovidi Monllor de 2009 e, ainda, nomeado, para os prémios de “melhor letra” e “melhores arranjos”.

Com Lo testament” (Bureo Músiques, 2013) Mara Aranda continuaria a linha de trabalho clara e contundente que se iniciara com ‘Dèria’, arrecadando o prémio Ovidi Monllor de “Melhor disco folk do ano”, poucas horas depois do seu lançamento.

Em 2015, Mara celebra os seus 25 anos de carreira com o disco Mare Vostrum, dedicado ao espaço cultural do Mediterrâneo, fonte de inspiração em toda a sua produção literária e musical, sendo galardoado como “Melhor disco folk do ano”.

Como investigadora e intérprete de música sefardita, Mara Aranda tem realizado viagens de residência para a investigação e estudo da dita tradição em Salónica (2003-2004) e Istambul (2006-2007), sendo resultado deste exercício a edição de “Músiques i cants dels jueus sefardis” (Galileo-mc, 2005) e “Sephardic Legacy” (Bureo Músiques, 2011). Em 2014, edita “Música encerrada”, acompanhada pela Capella de Ministrers, de Carles Magraner.

Em 2017 tem lugar o início do lançamento da sua obra mais completa, uma coleção composta por cinco discos dedicados às principais geografias da diáspora. O primeiro volume, intitula-se Sefarad en el corazón de Marruecos, considerado o “melhor disco europeu do ano” e o 9º do ranking mundial, pela Transglobal World Music List. O segundo volume, Sefarad en el corazón de Turquía, de 2019, recebeu, também, o galardão de “melhor disco europeu do ano”, ficando na 5ª posição de toda a produção mundial desse ano. Seguir-se-ão, sucessivamente, os dedicados à Grécia, Bulgária e antiga Jugoslávia.

Em 2020, Mara Aranda celebra os seus 30 anos de carreira profissional com o fabuloso disco Trobairitz”. Acompanhada pelo talento de quatro instrumentistas femininas, interpreta textos originais dos séculos XII e XIII de trovadoras medievais, as conhecidas trobairitz, bem como outros de que se não conhece o autor, não se descartando, naturalmente, a autoria de mulheres, com parte ativa na vida cultural e literária do sul da França, onde o occitano era a língua veicular da poesia.