A edição de 2008 do Festival Músicas do Mundo de Sines, uma organização da Câmara Municipal, assinala dez anos, com o programa mais extenso e ambicioso da sua história. De 17 a 26 de Julho, o FMM traz ao Litoral Alentejano 40 espectáculos com músicos de quatro “cantos do mundo” e iniciativas paralelas, repartidos por quatro palcos montados em Porto Covo e em Sines (Centro de Artes, Avenida da Praia e Castelo). Afirma-se, assim, definitivamente, como um dos mais importantes eventos musicais do género do planeta.
Natural do Recife, capital de Pernambuco, Siba Veloso, depois da experiência como líder da banda Mestre Ambrósio, mergulhou nas origens, com a Fuloresta, um conjunto de percussionistas/cantores da pequena cidade de Nazaré da Mata. O samba rural nordestino de Siba e a Fulorestamanifesta-se num curiosoencontro das novas sonoridades com estilos tradicionais como o maracatu e a ciranda.
Bassekou Kouyaté & Ngoni Ba [Mali]
ABBC Radio 3 considerou o maliano Bassekou Kouyaté como o melhor artista africano de 2008 e autor do melhor disco de “World” (“Segu Blue”). Natural de uma aldeia perto da cidade de Segu, nas margens do Níger, Bassekou forma com Ngoni Ba um quarteto de “ngoni” (espécie de alaúde africano), que produz um som acústico, considerado ancestral dos “blues”.
Serra-lhe Aí!!! & Os Rosales [Galiza]
O quinteto Serra-lhe Aí!!! foi formado há mais de 10 anos, entre Lugo e Ferrol, para recuperar o repertório da música das tabernas, utilizando dois acordeões compassados, gaita, metais, bombo, vozes e outros instrumentos de sopro. Em Sines, faz-se acompanhar por Maruxa Miguéns (voz e pandeireta) e Xosé Romero (gaita-de-foles), um casal conhecido por Rosales, famoso por tocar nas romarias e festas populares da Galiza.
Fundado em 2004, A Naifa, uma das mais originais novas bandas portuguesas, representa um encontro bem sucedido entre a pop, a electrónica e o fado. Os artífices são dois músicos com provas dadas, Luís Varatojo (ex-Despe & Siga), na guitarra portuguesa e João Aguardela (ex-Sitiados), no baixo e programações, que se fazem acompanhar pela cantora Maria Antónia Mendes e pelo baterista Paulo Martins.
Hermínia [Cabo Verde]
Nascida em 1942 em São Vicente, Herminia, a “Edith Piaf de Cabo Verde”, interessa-se cedo pela música, mas é só depois da morte do pai, quando vai viver para a ilha do Sal, que começa a cantar. Fá-lo na rua, com músicos ambulantes e em cafés. Prima de Cesária Évora, Herminia tem uma voz mais aguda, próxima do pregão e do pranto.
Hazmat Modine [EUA]
Omelhor grupo das Américas nos prémios da BBC Radio 3, Hazmat Modine, liderado por Wade Schuman, é um verdadeiro caldeirão de influências. Abarca os harmonica blues da primeira metade do século XX, os ritmos klezmer, as sonoridades havaianas, o calypso, o reggae, o ska, o funk...
Flat Earth Society and Jimi Tenor [Bélgica/Finlândia]
Flat Earth Society, criada no final dos anos 90 pelo compositor e clarinetista Peter Vermeersch, é uma das mais excitantes orquestras de jazz europeias. Usando a força dos metais, do vibrafone, do acordeão ou do sintetizador, produz uma música que viaja pelo rock, pelo funk ou pelo jazz. Acompanha-a Jimi Tenor, multi-instrumentista finlandês que começou a carreira na electrónica, mas que se tem vindo a movimentar noutras áreas (soul, afrobeat...).
The Last Poets [EUA]
Formados nas lutas pelos direitos civis dos anos 60, The Last Poets estão na raiz mais profunda da música rap. Um dos mais conceituados produtores da música negra, Quincy Jones, não teve pejo em reconhecer: “Foi através dos Last Poets que fui pela primeira vez atraído para a noção de hip hop”.
Enzo Avitabile & Bottari [Itália]
Nomeado para o prémio do público nos BBC Radio 3 World Music Awards 2006, o saxofonista e cantor Enzo Avitabile, natural de Nápoles, mistura os ritmos pulsantes e primitivos dos “bottari” (tocadores de barris) com jazz, blues e música africana.
Músicos de formação erudita, os Danças Ocultas operam uma completa reinvenção da concertina (ou acordeão diatónico), criando até uma nova, a concertina-baixo, para reforçar a paleta de graves. Nos três álbuns gravados e ao vivo, ouve-se a tradição transformada, variando entre a melancolia e desgarradas de grande fulgor rítmico.
Asha Bhosle [Índia]
Asha Bhosle é uma das mais extraordinárias figuras da cultura indiana do séc. XX e uma das mais importantes cantoras de todo o mundo. Hoje com 74 anos, Asha é ainda uma das figuras de referência do repertório musical de Bollywood (indústria cinematográfica indiana). Desde 1943, quando se iniciou, deu a voz a mais de 950 filmes e gravou um total estimado de mais de 12 mil canções.
A Tribute to Andy Palacio / Guests [Belize/Honduras]
Andy Palacio, natural do Belize, foi um dos grandes responsáveis pelo renascimento da cultura garifuna (mistura do legado dos escravos africanos com a dos índios). Palacio faleceu no início de 2008, pelo que uma reunião dos melhores músicos que acompanhavam Palacio na banda Garifuna Collective, três cantoras de outro grupo garifuna marcante, Umalali, e o vocalista hondurenho Aurelio Martinez darão um espectáculo comandado pela guitarra eléctrica, que mistura a tradição regional, rock e reggae.
O ucraniano-moldavo (radicado na Noruega), Misha Alperin, no piano, Arkady Shilkloper, nos metais, e Sergey Starostin, no clarinete e vozes, estreiam-se como trio em 1990 no 1.º Festival Internacional de Jazz de Moscovo, tornando-se um verdadeiro laboratório de composição erudita, folclore e jazz.
Lo Còr de la Plana [Occitânia]
Na música do sexteto vocal masculino Lo Còr de la Plana, de Marselha, respira-se a cultura da Occitânia (região do sul de França). Ainda que, aberta a outras paragens, sobretudo do Magrebe, a sonoridade dos Lo Còr de la Plana é uma surpreendente paleta vocal, em que as polifonias tecem um espectáculo inolvidável de permanente apelo à dança.
Danae [Portugal]
Danae Estrela, filha de mãe cubana e pai cabo-verdiano, nasceu em Havana, viveu a maior parte da sua vida em Cabo Verde e reside hoje no nosso País. Aposta numa música com raízes nas tradições africana, latina e europeia. É acompanhada pelos alemães Raimund Engelhardt (tablas, cimbal e outras percussões) e Johannes Krieger (trompete) e pelo cabo-verdiano Danilo Lopes (guitarra e coros).
Na linha de grandes intérpretes femininas da vanguarda musical, como Meredith Monk ou Laurie Anderson, a checa Iva Bittová é uma artista consistente e multifacetada como poucas: ora é actriz de cinema ou toca com DJ's, ora canta ópera ou integra um quarteto de cordas clássico ou um grupo de jazz. O violino e a voz, que usa de forma desconcertante, são os instrumentos que mais marcam o seu trabalho, uma espécie “muito pessoal de música folk”.
Moriarty [EUA/França]
Formada em Paris, a banda Moriarty move-se entre o folk, country, blues e cabaret, produzindo baladas interessantíssimas. Liderada pela vocalista Rosemary Moriarty, é constituída por mais quatro músicos com raízes nos EUA (que assumem todos o apelido artístico Moriarty), na harmónica, baixo, guitarras, contrabaixo e outros instrumentos.
Dead Combo [Portugal]
Com um contrabaixo, uma guitarra eléctrica e pouco mais, os Dead Combo levam-nos a um mundo inteiro: dos EUA a Cuba, dos blues à música latina, do fado a Ennio Morricone. Não é fusão; servem-se apenas do material tímbrico dos seus instrumentos e da sua criatividade e transformam o som em imaginário.
Nascido em 1954 em Angola, um dos mais universalistas músicos mundiais, ponte privilegiada entre as tradições africana, europeia e brasileira, Waldemar Bastos é, há mais de uma década, um dos nomes mais importantes do circuito da “World Music”. Em 1996, conhece David Byrne, que lhe proporciona a ansiada projecção internacional com a gravação de “Pretaluz” na editora Luaka Bop, considerado um dos melhores da década pelo The New York Times.
Vinicio Capossela [Itália]
Nascido na Alemanha mas residente em Milão desde muito cedo, Vinicio Capossela é uma das maiores figuras da música italiana contemporânea. Cantautor de referência, comparado a Paolo Conte e a Tom Waits pela voz rouca e pela capacidade comovente, Capossela incorpora na sua música influências de géneros como o tango, os blues, o rembetiko, a morna ou o cabaret.
Justin Adams & Juldeh Camara [R. Unido/Gâmbia]
"Soul Science", um dos mais sensacionais discos de fusão do novo século, vencedor dos prémios de “World Music” da BBC Radio 3 na categoria "Cruzamento de culturas", foi realizado pelo inglês Justin Adams, guitarrista de Robert Plant e produtor dos Tinariwen, e pelo gambiano Juldeh Camara, cantor e especialista do "riti", antepassado africano do violino. A total afinidade entre os dois músicos e o resultado da colaboração prometem em Sines um concerto imperdível.
Anthony Joseph/The Spasm Band/Joe Bowie [Trinidad/R. Unido/EUA]
Anthony Joseph, nascido na ilha de Trinidad, mas a viver no Reino Unido desde 1989, é um extraordinário poeta e romancista, mas também um grande músico. Em Sines ouviremos um espectáculo de “spoken word”, com Joseph a recitar os seus poemas, com o suporte instrumental da banda The Spasm, num encontro da mais vibrante poesia com free jazz, calypso e os ritmos dos espirituais negros.
Prémio José Afonso 2006, o quinteto portuense Mandrágora formado por Filipa Santos, Ricardo Lopes, Pedro Viana, Sérgio Calisto e João Serrador reinventam a folk portuguesa. Em Sines fazem-se acompanhar pelo exímio violinista bretão Jacky Molard, pelo clarinetista Guillaume Guern e pela cantora luso-francesa Simone Alves.
Marful "Salón de Baile" [Galiza]
Os Marful recuperam a miscigenação da música tradicional galega com ritmos vindos da América Latina, da América do Norte e do resto da Europa, que dominava os salões de baile galegos dos anos 30, 40 e 50 do século XX. À frente deste projecto está Ugia Pedreira (uma das vozes mais transgressoras da música galega, directora do Conservatorio de Musica Tradicional e Folque de Lalín), que se faz acompanhar por acordeão diatónico, clarinete baixo e guitarra.
Toto Bona Lokua [Antilhas/Camarões/RD Congo]
Gerald Toto é um cantautor com origem na ilha de Martinica, nas Antilhas Francesas; Richard Bona é um vocalista e baixista nascido nos Camarões e radicado nos EUA, com uma carreira sustentada, quer no seu projecto a solo, quer como músico de jazz e produtor; Lokua Kanza vem do Congo e é vocalista, guitarrista, teclista e compositor. Do seu encontro resultou uma música onde a tradição da África Ocidental se mistura sabiamente com o jazz, pop, soul e R&B.
Orchestra Baobab [Senegal]
Banda pioneira da pop africana, a Orchestra Baobab assenta a sua música nos ritmos afro-cubanos, nomeadamente nos ritmos das Antilhas fundidos com a rumba congolesa, o “high life” ganês e outros ritmos de África. Em 2003, venceu dois prémios da BBC Radio 3 (melhor grupo africano e melhor álbum do ano) e foi nomeada para um Grammy.
Silvério Pessoa [Brasil]
Natural da Mata de Pernambuco,Silvério Pessoa é um revolucionário da música nordestina. Um concerto de Silvério é um autêntico forró eléctrico, uma desordem dançante onde a tradição acústica rural e a matriz rock urbana se cruzam com mestria.
Toubab Crewe [EUA]
Quinteto instrumental dos EUA, Toubab Crewe, desde 2005, tem criado novas ligações entre as músicas da América e da África Ocidental. No Mali, na Guiné Conákri e na Costa do Marfim, os “toubab” (estrangeiros) inseriram-se na cultura local, estudaram com os maiores mestres, aprenderam a tocar com rigor instrumentos africanos (kora, ngoni, kamelengoni...) e criaram uma entusiasmante música de fusão.
Originário da Nortúmbria, um velho reino medieval que hoje compreende parte do norte da Inglaterra e do sul da Escócia, o quarteto feminino Rachel Unthank & The Winterset conquistou já um lugar de destaque na folk britânica. A música de Rachel (voz e violoncelo), Bethy Unthank (voz), Belinda O'Hooley (piano e voz) e Niopha Keegan (fiddle e voz) alimenta-se do repertório tradicional, mas também de canções de autores como Antony & The Johnsons, Robert Wyatt e Bonnie Prince Billy.
Asif Ali Khan & Party [Paquistão]
Os qawwals, membros ordenados de uma ordem monástica criada na Índia do séc. XIII, são cantores e músicos muçulmanos, geralmente nómadas, que celebram o amor místico. Nascido em 1973, Asif Ali Khan é um qawwal extraordinário, discípulo directo do maior representante do género no século XX, Nusrat Fateh Ali Khan. Apresenta-se em Sines com a sua Party, uma secção vocal e rítmica de nove elementos.
KTU [Finlândia/EUA]
Como já ouvimos na edição de 2005 do festival, com Kimmo Pohjonen o acordeão deixa de ser um instrumento conservadore pouco aventureiro, e torna-se escuro, urbano, industrial. O duo norte-americano TU, composto por Trey Gunn (guitarra Warr, uma guitarra de 10 cordas, com o alcance de um piano) e Pat Mastelotto (nas percussões e outros artefactos rítmicos), membros dos lendários King Crimson, juntam-se a Pohjonen eelaboram uma música de dança abrasiva, escura e absolutamente original.
Cui Jian [China]
Formado como trompetista clássico, Cui Jian começa a interessar-se pelo rock através de cassetes introduzidas por estrangeiros no país. Em 1984, já com a guitarra eléctrica a tiracolo, forma uma das primeiras bandas pop da China, começando a criar uma fusão de rock, rap e música tradicional completamente nova no universo musical chinês. Canções com temas como a sexualidade e o individualismo são também novidade na criação musical do país.
Firewater [EUA]
Formada em 1997 pelo baixista, vocalista e compositor norte-americano Tod Ashley, a banda Firewater mistura o rock e o punk com a música cigana e outras músicas tradicionais do sub-continente indiano e do Sudoeste Asiático.
Nortec Collective/Bostich and Fussible [México]
O “nortec”, produto sonoro da fusão entre a música “norteña” (marcada pelo som dos metais), com a música techno, nasceu em Tijuana, cidade do México próxima da fronteira com os EUA. O Nortec Collective é um projecto com várias formações, que toca “nortec”, de forma absolutamente original e entusiasmante, a convidar à dança.
Com o Ibuyambo Ensemble, Dizu Plaatjies, sul-africano de 48 anos, faz uma música que designa de “neo-tradicional” e que cobre uma área muito alargada. Melodias do Zimbabué, percussões moçambicanas, um coro congolês, cliques feitos com a língua pelo povo San, histórias do Uganda, cantos infantis, hip hop, tudo isto se mistura numa viagem que sabemos ser pelo sul do continente mas onde nunca estamos num único lugar ao mesmo tempo.
Koby Israelite [Israel/Reino Unido]
Nascido em Tel-Aviv, em 1966, e actualmente a viver no Reino Unido, Koby Israelite estudou piano clássico, especializou-se na bateria e apaixonou-se pelo acordeão. Dos mais talentosos representantes da estética jazzística “Tzadik”, Koby envereda por um jazz com evidentes reminiscências de “klezmer” e de música cigana do leste europeu, mas onde também cabem surpreendentes acentos de “heavy metal”.
Rokia Traoré [Mali]
Rokia Traoré é uma espécie de cantautora africana que conhece os "griots", mas também o jazz, a música clássica, o rock, os blues e a música indiana. Tudo isso está nas suas canções, autênticas pérolas de depuração acústica, em que a delicadeza e simplicidade não se confundem com fragilidade. A completar 10 anos de carreira, tal como o FMM, Rokia, desde o seu primeiro disco, “Mouneïssa” (1998), até ao novíssimo “Tchamanché” (2008) tem construído uma carreira brilhante.
Doran-Stucky-Studer-Tacuma [Irlanda/Suíça/EUA]
O guitarrista irlandês Christy Doran, o baterista suíço Fredy Studer, a cantora suíça Erika Stucky e o baixista norte-americano Jamaladeen Tacuma constituem um quarteto dinâmico, que traz o espírito de Jimi Hendrix ao FMM, encerrando, em grande estilo, as noites no castelo.
Jean-Paul Bourelly, Melvin Gibbs & Will Calhoun [EUA]
Um trio de luxo da música norte-americana abre com uma explosão de blues e funk a última noite na praia. Jean-Paul Bourelly, um dos melhores guitarristas de blues contemporâneos, com um som eléctrico e fortes aproximações ao funk e ao rock; Will Calhoun, eleito por várias revistas da especialidade o melhor baterista do mundo; e Melvin Gibbs, eleito o melhor baixista do planeta.
Boom Pam [Israel]
Formada em 2003, Boom Pam, a mais demolidora banda israelita, funde o som das guitarras eléctricas do “surf rock” com músicas tradicionais do Médio Oriente, dos Balcãs, da Grécia e do resto do Mediterrâneo. O efeito sonoro é, nas palavras de um crítico alemão, a banda sonora perfeita para um filme realizado ao mesmo tempo por Quentin Tarantino e Emir Kusturica.