“Existem imensas similaridades entre o Flamenco e o Qawwali, notórias, sobretudo, nas suas vocalizações viscerais, catárticas, a meio caminho entre a dor e o êxtase. Se bem que distintas sob o ponto de vista musical, é certo, no entanto, que ambas as expressões cumprem funções espirituais. O flamenco é uma música nitidamente profana, que se centra no quotidiano, ao passo que os qawwals são cantores e músicos muçulmanos, geralmente nómadas, que celebram o amor místico.
A relação estreita entre o flamenco e a arte do subcontinente indiano já se havia manifestado, por exemplo, em ‘Yerbagüena’ de Pepe Habichuela & The Bollywood Strings, lançado em 2001. Mais tarde, em 2006, pela mão da etiqueta Accords Croisés, surge o fabuloso projecto “Qawwali Flamenco”, uma edição especial luxuosa, que inclui um livro de quarenta páginas ilustradas, dois CDs e um DVD. Trata-se do encontro entre o Ensemble de Qawwali Faiz Ali Faiz, do Paquistão, e um quarteto espanhol, constituído por Duquende, Miguel Poveda, Chicuelo e Vigueras. Ao longo de onze longos e fascinantes temas, desfilam sons exclusivamente de flamenco, em que a guitarra de Chicuelo acompanha Duquende ou Poveda, que cantam tangos, malagueñas, granaínas ou soleá, existem canções exclusivamente de 'qawwali', em que a voz de Faiz Ali Faiz se faz acompanhar por coros, tabla e harmonium e surgem faixas onde o flamenco e o 'qawwali' interagem ao encontro do divino.
A intensidade de “Qawwali-Flamenco”, a sua complexidade, os seus sentimentos, as suas emoções e o seu valor musical podem ser ouvidos ao longo de quase duas horas, mas também vistos num DVD com aproximadamente uma hora, que regista o concerto no Festival de Fez (Marrocos), em Junho de 2005, sob os arcos do antigo palácio de Bab Makina.
A 18 de Outubro, no Teatro José Lúcio da Silva (Leiria), e a 19, no Centro Cultural de Belém (Lisboa) tiveram lugar dois extraordinários concertos integrados na extensão que passa pela Europa e pelos Estados Unidos do Festival au Désert.
Nas primeiras partes, o músico e cantor maliano Vieux Farka Touré, filho de consagrado Ali Farka Touré, conseguiu o feito de entusiasmar o público com um som muito próximo do rock, sem nunca perder o contacto com as raízes tradicionais africanas. A diversidade de linguagens exprimidas no decorrer dos concertos remeteu-nos para um amplo conceito de World Music e para um autêntico caldeirão de culturas, onde rock, reagge, pop e música tradicional coabitaram sem o mínimo de atrito e encantaram os presentes.
Nas segundas partes, os impagáveis Tinariwen, tuaregues do Mali, que já haviam actuado no Porto, em Loulé, em Évora e em Lisboa. Guitarras hipnóticas, vozes poderosas, percussão contagiante desfilaram freneticamente, criando sons quentes, típicos da música norte africana das regiões próximas do Sahara. Injecções de música árabe misturada com blues, psicadelismo e acidrock foram-se sucedendo, de forma a que as guitarras e as fabulosas vozes masculinas que cantavam manifestos políticos parecessem saídas de um outro planeta.
A 15 e 16 de Junho, no Teatro Viriato, acontece o Viseu a 15 do 6, um evento que leva à cidade o grupo Cordel do Fogo Encantado (proveniente do Brasil e que em 2006 incendiou o Festival de Músicas do Mundo de Sines), Nobody´s Bizness (blues acústico do Delta do Mississipi), Anonima Nuvolari (música italiana na sua vertente mais divertida e dinâmica) e Angelite / Huun-Huur-Tu / Moscow Art Trio (um interessantíssimo encontro entre culturas do leste), entre outros.
O destaque do Viseu a 15 do 6 vai, naturalmente, para o coro feminino TheBulgarian VoicesAngelite (Bulgária), o grupo Huun-Huur-Tu (Tuva) e o Moscow Art Trio (Rússia), que se haviam juntado em 1998 para editar o registo “Mountain Tale” (JARO Medien). As Angelite são um grupo de canto vocal composto por dezanove mulheres, que combina elementos tradicionais búlgaros com intervalos microtonais e justaposição de escalas diatónicas, cromáticas e pentatónicas. Os Huun-Huur-Tu são um quarteto de Tuva, representante do famoso throat singing, o canto gutural que consiste na emissão simultânea de diferentes sons sobrepostos através do controle da boca, da laringe e da faringe.O Moscow Art Trio é uma das formações mais interessantes do Novo Jazz da Rússia. Juntos divulgarão “Mountain Tale”, um álbum surpreendente, de uma grande riqueza melódica e rítmica.
A nona edição do Festival Músicas do Mundo realiza-se entre os dias 20 e 28 de Julho de 2007, uma organização da Câmara Municipal de Sines. Após uma bem sucedida edição no ano transacto, os eventos têm lugar, uma vez mais, na aldeia de Porto Covo e em três locais emblemáticos da cidade de Sines (Castelo, Avenida da Praia e Centro de Artes). A edição deste ano do FMM, a mais ambiciosa de sempre, traz ao Litoral Alentejano 32 concertos com músicos dos cinco continentes e afirma-se, cada vez mais, como o mais importante evento musical do género do planeta.
20 de Julho, Sexta - Porto Covo
A honra de abertura cabe aos portugueses. Às 21h30, os Galandum Galundaina iniciam as hostilidades. Trazem-nos os efeitos visuais dos grupos de pauliteiros, cantam e tocam a gaita-de-foles mirandesa, a flauta pastoril, a sanfona e outros instrumentos tradicionais e recriam melodias, gestos e palavras preservadas durante séculos no isolamento das terras de Miranda (Trás-os-Montes).
Às 23h00, Darko Rundek, da Croácia, actua com a sua Cargo Orkestar, uma banda constituída por oito músicos de diversas origens e que até inclui um franco-português. A Orkestar mistura dolentemente os Balcãs com a Europa Central, a América do Sul, a África e a electrónica, adornados pela voz rouca de Darko Rundek em cantos que tratam de viagens e da solidão na imensa aldeia global.
Combinando sabiamente as culturas dos Tuaregs e dos Woodabe, sem lhes retirar o carácter essencial de cada uma delas, os Etran Finatawa do Níger, actuam às 00h30, encerrando da melhor maneira o primeiro dia do Festival. À semelhança do que fizeram os vizinhos malianos Tinariwen e Tartit, os Etran Finatawa, que significa “as estrelas da Tradição”, misturam instrumentos tradicionais com guitarras eléctricas, fundem cantos polifónicos das tribos nómadas com arranjos modernos e casam canções curativas e as caminhadas dos camelos do Sahara com repertórios urbanos.
21 de Julho, Sábado - Porto Covo
Às 21h30, no segundo dia do FMM, o americano Don Byron, um dos mais importantes clarinetistas da actualidade, eleito músico de jazz do ano de 1992 pela insuspeita Down Beat, traz a Porto Covo "Do The Boomerang", o disco de 2006 que visita uma figura pioneira, mas algo esquecida, da soul dos anos 60, o saxofonista e cantor Junior Walker.
Às 23h00, actua a cantora griotMamani Keita, uma das melhores vozes de África. A carreira musical de Mamani começa em Bamako, mas é em França que conhece o sucesso. Apoiada pelo guitarrista francês Nicolas Repac, traz-nos a Sines a música tradicional do Mali e a riqueza de cambiantes de uma voz excepcional, adornada pela electrónica. A tradição e a modernidade num delicadíssimo universo sonoro para nos deliciar.
Às 00h30, a música tradicional e o rock experimental numa fusão inesperada, encerram o segundo dia do Festival. Eleitos a melhor nova banda da Rússia em 2002, os Deti Picasso,constituídos por dois arménios e três russos, misturam melodias de canções tradicionais da Arménia com rock da Rússia e alternam momentos plácidos, quase ambientais, com explosões psicadélicas, altamente contagiantes.
22 de Julho, Domingo - Porto Covo
No último dia do FMM em Porto Covo, começam por actuar, às 21h30, os húngaros Djabe, o mais premiado e reconhecido internacionalmente dos grupos de jazz do leste europeu, com aproximações à World Music. Do seu repertório fazem parte uma mistura de música improvisada, da tradição popular húngara, de padrões rítmicos de vários locais do mundo e até de referências ao rock progressivo dos anos 70.
Às 23h00, ainda o jazz, desta vez de Karl Seglem, um dos mais importantes saxofonistas noruegueses, com Rão Kyao, o músico que aproximou o saxofone do fado e trouxe a flauta de bambu à música portuguesa. Num espectáculo em estreia mundial, Seglem e Kyao assentarão o seu concerto no jazz e na aproximação à folk, à “world music” e à exploração sonora da clássica contemporânea.
Às 00h30, os ucranianos Haydamaky encerram as hostilidades em Porto Covo, com um cruzamento de reggae, punk e música tradicional. Nascidos em 1991, ainda como “Aktus”, os Haydamaky começaram no rock, evoluíram para os domínios do ska e do punk e, em 1993, com a entrada de Olexandr Yarmola, cantor e tocador da flauta “sopilka”, e Ivan Len’o, acordeonista, aproximaram-se das músicas tradicionais da Ucrânia e enveredaram por uma música de fusão de todas essas correntes.
23 de Julho, Segunda – Centro de Artes (Sines)
No primeiro dia do FMM em Sines, começa por actuar, às 21h30, o francês Marcel Kanche, poeta, compositor, guitarrista exímio e uma voz a meio caminho entre Gainsbourg e Cohen. No Centro de Artes, em ambiente sereno, estruturado por um ensemble acústico de instrumentos como o violoncelo, o acordeão e o piano, Marcel dará um concerto entre a chanson française, o jazz, o rock progressivo e o punk.
Às 23h00, duas irmãs gémeas do País Basco, as Ttukunak, dão vida nova à “txalaparta”, um instrumento de percussão com uma história de 2000 anos, feito de tábuas e vigas de metal de dois metros de comprimento, percutido por ripas de madeira. Com um som semelhante ao galope de um cavalo, a “txalaparta”, foi, com o tempo, ganhando complexidade rítmica. Deve, no entanto, ser tocada por duas pessoas ao mesmo tempo e as suas intérpretes actuais mais conhecidas são precisamente as gémeas Ttukunak, que abordam o instrumento de forma contemporânea, inovando nos ritmos e apostando na improvisação.
24 de Julho, Terça – Centro de Artes (Sines)
O segundo e último dia do FMM no Auditório do Centro de Artes é marcado pelos regressos. Às 21h30, começa por actuar Lula Pena, uma das mais comoventes vozes da música portuguesa. Entre o jazz e o fado, a pop e a soul, a música brasileira e a música árabe, o mistério e a alma de uma voz algo enigmática, mas absolutamente imperdível, reverar-se-á num concerto intimista.
Às 23h00, o músico bretão Jacky Molard e o seu Acoustic Quartet trazem-nos todo o universo da música celta e da improvisação. O violino de Jacky Molard tocado no modo irlandês, o contrabaixo de Hélène Labarrière, o saxofone de Yannick Jory e o acordeão diatónico de Janick Martin prometem um concerto dinâmico, onde o jazz manouche e elementos balcânicos e orientais se fundem com teias sonoras de eleição.
25 de Julho, Quarta – Castelo e Av. Praia (Sines)
No primeiro dia do FMM no Castelo, começa por actuar, às 21h30, o indiano Trilok Gurtu, o maior percussionista do mundo para a insuspeita Down Beat, que, assim, regressa a Sines, um ano depois. Acompanha-o, desta vez, uma banda composta pelo violinista italiano Carlo Cantini (do Arkè String Quartet), a cantora indo-britânica Reena Bhardwaj (do grupo de Nitin Sawhney), o guitarrista Jan Ozveren (do grupo de Corrine Bailey Rae), o baixista da Reunião Johann Berby e o australiano Phil Drummy (“didgeridoo” e “santoor”).
Às 23h00, é a vez da folk dançante dosBellowhead, do Reino Unido, a maior revelação da música tradicional britânica no século XXI. Melhor grupo e espectáculo de 2007, na escolha dos Folk Awards da BBC Radio2, a banda é constituída por onze músicos, que tocam acima de 20 instrumentos. As suas canções abarcam as mais diversas influências, desde o cabaret à música brasileira, desde o jazz às sonoridades africanas. As velhas canções e danças tradicionais inglesas ganham, assim, uma extraordinária energia e riqueza tímbrica e harmónica.
Às 00h30, entra em cena, para o último concerto do dia no Castelo, Oumou Sangaré, uma das mais importantes cantoras africanas de sempre. Originária da região do Wassoulou, no sul do Mali, Oumou começou por cantar em festas de rua em Bamako, para se sustentar. Não tendo crescido no seio dos músicos profissionais da corte, os Griots, Oumou afirmou-se pelas suas ideias, preocupando-se em aprofundar os problemas sociais próprios de uma sociedade islâmica (poligamia, compra de noivas, excisão...) e manifestar-se pelos direitos das mulheres, o que lhe valeu uma distinção pela UNESCO. A música de Oumou Sangaré é um feliz cruzamento dos ritmos “Wassoulou” com funk, rhythm n’ blues e afrobeat, adornados por uma voz magnífica e poderosa.
Na Avenida da Praia, às 02h30, a Oki Dub Ainu Band cruza a tradição acústica dos Ainu (povo antigo do Japão, de ascendência mongol, que se bate pela sobrevivência das suas tradições no contexto da cultura nacional dominante) com o "dub-reggae", a electrónica e a música afro-americana. O resultado é uma espécie de música “trance” verdadeiramente global, “completamente diferente de tudo o que já ouviu”, segundo a “Wire”.
26 de Julho, Quinta – Castelo e Av. Praia (Sines)
É na Avenida da Praia que começa a música, a 26 de Julho. Às 19h30, Harry Manx, britânico radicado no Canadá, toca blues, mas fá-lo, entre outros instrumentos, com um híbrido de guitarra indiana e “setar”. O resultado é uma estética a que já chamaram “Mysticssipi”: a força dos blues, pitadas de gospel na interpretação vocal e texturas musicais da Índia.
Já no Castelo, às 21h30, o contrabaixista português Carlos Bica, um dos melhores músicos de jazz da Europa, faz-se acompanhar pelo Trio Azul e pelo DJ alemão Ill Vibe . O seu jazz, a fazer cedências à música erudita, à folk, ao rock e à pop, não são de estranhar, se tivermos em conta o seu percurso de formação clássica, experiência na música improvisada e colaborações com músicos populares.
Às 23h00, num dos momentos mais esperados do FMM, os Tartit, banda Tuareg constituída por cinco mulheres e quatro homens que residem na região de Timbuktu (Mali), evocam com autenticidade a imensidão do deserto do Sahara. A música dos Tartit é uma espécie de Trance hipnótica: as mulheres, sentadas, cantam e tocam ritmos cíclicos nos seus tambores típicos, enquanto os homens cantam e tocam instrumentos de corda acústicos e eléctricos.
Às 00h30, para o último concerto do dia no Castelo, espera-se um dos momentos mais altos do Festival. O etíope Mahmoud Ahmed,considerado pela BBC o melhor músico africano de 2006, traz-nos uma soul exótica, onde se misturam os ritmos circulares de sabor oriental da tradição aramaica, o pop e pitadas de jazz. Indubitavelmente um dos melhores músicos africanos da actualidade.
De novo na Av. Praia, às 02h30, actuao britânico, filho de jamaicanos, Bitty McLean, também engenheiro de som e produtor. Considerado um dos cantores do reggae actual com mais aproximações à soul, faz-se acompanhar no FMM pelos génios jamaicanos do drum n'bass, Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, a secção rítmica mais importante da história do reggae.
27 de Julho, Sexta – Castelo e Av. Praia (Sines)
A Oceania estreia-se no Festival de Sines, a 27 de Julho. O grupo Aronas, liderado pelo pianista neo-zelandês, radicado no Reino Unido, Aron Ottignon, do qual faz parte também um baterista australiano, um baixista eslovaco e a um percussionista português, actua na Avenida da Praia, às 19h30. A música dos Aronas é uma espécie dejazz enérgico, onde se misturam, naturalmente, as influências dos ritmos nativos da Polinésia.
No Castelo, às 21h30, a presença obrigatória do Brasil no FMM, desta vez com o Hamilton de Holanda Quinteto. Considerado por Hermeto Pascoal "o maior bandolinista do mundo" e pela crítica francesa “O Príncipe do Bandolim”,Hamilton é um animal de palco e toca de forma exuberante um repertório de música popular, erudita e jazz.
Às 23h00, o famoso quarteto de saxofones dos EUA World Saxophone Quartet, depois da presença no FMM em 2001, regressa a Sines para divulgar "Political Blues", um manifesto contra o clima político americano. “Free” jazz recheado de blues e muito funk, aliás como David Murray já nos habituou.
Às 00h30,,um argelino crescido em França, mostra-nos como foi capaz de investir na procura de novas rotas para géneros tradicionais como o rai da Argélia e o chaabi de Marrocos. Com um passado próximo do rock de combate, mercê da fundação, nos anos 80, dos Carte de Séjour, Rachid Taha foi conquistando uma audiência de fiéis dispostos a saborear o embate entre a tradição da música do Magrebe e a modernidade simbolizada pelo rock.
Na Av. da Praia, às 2h30, La Etruria Criminale Banda, um grupo de 15 músicos vai-se empenhar em mostrar uma visão experimentalista e surreal da música tradicional italiana, fundindo, sem o mínimo de atrito, estilos tão diferentes como a tarantela, a música de circo, o tango, o ska e o swing.
28 de Julho, Sábado – Castelo e Av. Praia (Sines)
No último dia do Festival, actua na Avenida da Praia, às 19h30, o grupo bretão, Norkst, uma espécie de «big band» nascida na Kreiz Breizh Akademi (academia de música tradicional da Bretanha), que agrupa alunos e professores desta academia, sob a direcção de Erik Marchand. Os Norkst têm a música e os cantos tradicionais da Bretanha como ponto de partida para uma música aberta e livre em que se junta a improvisação e os solos do jazz às texturas da música oriental.
Às 21h30, no Castelo, a Suiça faz-se representar por Erika Stucky, acordeonista e vocalista com formação em jazz. Acompanha-a a banda Roots of Communication, com instrumentos como a enorme trompa dos Alpes, a bateria e o trombone.A música que fazem é uma mistura de pop, jazz vanguardista e muito “yodel.
De regresso a Sines, o rapper somali K'Naan actua às 23h00, depois de ter sido eleito pela BBC Radio 3 como melhor novo artista de 2006, na área da World Music. "Hip hop" com sabor acústico e africano e poesia de protesto consequente, com marcas dos ritmos e timbres tradicionais, desta vez no Castelo, depois de, no ano transacto, ter actuado na Av. da Praia. Para ouvir de novo e para provar que não foi por acaso que foi considerado a revelação do FMM 2006.
Igualmente premiado pela BBC, mas como melhor grupo das Américas, os Gogol Bordello actuam no Castelo às 00h30. Liderando dois russos no violino e acordeão, duas vozes / percussionistas de ascendência asiática, um guitarrista e um baixista israelitas e um baterista americano, o ucraniano Eugene Hütz fez dos Gogol uma banda que passa depressa da animação de casamentos para uma música de protesto com referências ciganas, punk, dub-reggae, cabaret e klezmer.
Para encerramento, às 02h30, na praia, poderão ouvir e dançar com um dos grupos mais exuberantes e inventivos da World Music, os Señor Coconut and His Orchestra liderados porUwe Schmidt, produtor e DJ alemãoradicado no Chule.Acompanham-nos o cantor venezuelano Argenis Brito. Clássicos da pop electrónica alemã e japonesa tocados com arranjos latinos para entrar, pela noite dentro, nas últimas horas do festival.
Iniciativas Paralelas
Exposição "N'Gola", do fotógrafo angolano Kiluanji.; Ciclo de Cinema com o tema "Música e Trabalho"; conversas com artistas do festival; "Workshops" para as crianças; sessões de DJ.
Os homens Tuareg do deserto do Sahara estão cobertos por véu, as mulheres não. A Sociedade Tuareg é uma das poucas do continente africano em que as mulheres estão autorizadas a escolher os seus maridos e para se divorciar deles se o entenderem.
Nada evoca com tanta autenticidade a imensidão do deserto do Sahara como a música dos Tartit, uma banda Tuareg constituída por cinco mulheres e quatro homens que residem na região de Timbuktu.(Mali)
A música dos Tartit é uma espécie de Trance hipnótica: as mulheres, sentadas, cantam e tocam ritmos cíclicos nos seus tambores típicos, enquanto os homens cantam e tocam instrumentos de corda acústicos e eléctricos.
A banda formou-se num campo de refugiados, tal como os Tínariwen, que já aqui destacámos, durante o levantamento Tuareg nos inícios dos anos 90. Os Tartit realizaram já pela Europa várias tournées, a mais recente fazendo parte dos concertos “Desert Blues”.
Depois de um registo editado pela Network (“Ichichila”), os Tartit regressam com “Abacabok” para a Crammed, um registo gravado em Bamako e no norte desértico do Mali pelo produtor dos Congotronics, Vincent Kenis, no seu estúdio móvel. Distribuição: Megamúsica.
O Festival Músicas do Mundo de Sines assumiu-se, desde há uns anos, como o maior dos eventos do nosso país, dedicados à World Music. Em 2004, na discutível opinião dos autores deste Blog, terá acontecido a melhor das edições do FMM. Nomes como, por exemplo, os polacos Warsaw Village Band, a grega Savina Yannatou ou a maliana Rokia Traoré são mais do que suficientes para o atestar.
Temas divulgados insistentemente na Rádio:
Warsaw Village Band - Lament “Uprooting”
Savina Yannatou & Primavera en Salonico - Porondos viz partjan “Sumiglia”
Rokia Traoré -Bowmboi
“Bowmboi”
A edição de 2005 contou com nomes sonantes como por exemplo da mexicana Astrid Hadad, dos marroquinos The Master Musicians of Jajouka ou dos Bósnios Ljiljiana Butter & Mostar Sevdah Reunion.
Temas divulgados insistentemente na Rádio:
Astrid Hadad y los Tarzanes -Gritenme piedras del campo
“Ay!”
The MasterMusicians of Jajouka- Talaha l’badro alaina “Apocalypse across the sky”
Mostar Sevdah Reunion -Pitao sam Malog puza “Saban Bajramoric: a gypsy legend”
A oitava edição do Festival Músicas do Mundo realizou-se entre os dias 21 e 29 de Julho de 2006. Os eventos tiveram lugar em três locais da cidade de Sines (Castelo, Avenida da Praia e Centro de Artes de Sines) e na aldeia de Porto Covo.
Em 22 de Julho, sábado, actuaram em Porto Covo, Boris Kovac & La Campanella, da Sérvia. Saxofonista e compositor de renome, Boris Kovac é um dos mais produtivos e respeitados músicos europeus da actualidade. Depois dos Ritual Nova e da Ladaaba Orchest, BorisKovac faz-se agora acompanhar pela banda La Campanella, com a qual editou “World After History”, um registo onde se cruzam os ritmos da multi-étnica Vojvodina, de onde é originário, e várias músicas do Mediterrâneo.
Tema obrigatório: Boris Kovac & La Campanella(2) Latina 4,08 “World After History” (2005 Piranha)
Em 27 de Julho, quinta, no Castelo de Sines, actuou o trio constituído por Rabih Abou-Khalil (compositor libanês e mestre do oud, uma das maiores figuras da fusão do jazz europeu), pelo pianista alemão Joachim Kühn, (nome cimeiro do jazz europeu) e pelo percussionista americano Jarrod Cagwin. A base do concerto assentou sobre “Journey to the centre of na egg”, um registo onde oud, piano e percussões se casam sabiamente entre o humor e a meditação.
Ainda a 27 de Julho, o maliano Toumani Diabaté, o maior tocador de kora (espécie de harpa de 21 cordas) da actualidade, fez-se acompanhar pela Symmetric Orchestra, banda constituída por dezenas de músicos e verdadeira instituição do Mali. No castelo de Sines pudemos ouvir composições tradicionais e temas originais, onde pitadas de jazz, de funk, de pop e de rock se fizeram sentir num trabalho orquestral dominado pela kora.
Tema obrigatório: Toumani Diabaté’s Symmetric Orchestra (7) Mamadou Diaby (6,43) “Boulevard de l’Independance” (2006 World Circuit)
Para o último dia, 29 (sábado) alguns dos pratos mais apetecíveis: às 19h na Av. Da Praia a voz comovente de Mariem Hassan cantou a alma da nação Saharaíu, o amor, Deus e sobretudo a esperança de um dia voltar ao Sahara Ocidental como país independente.
Tema obrigatório: Mariem Hassan (8) Id Chab (3,34) “The Sahara” (2005 World Music Network)
Às 21,30h, no Castelo, as melhores vozes femininas da folk escandinava, as finlandesas Värttina deram a conhecer a visão contemporânea da tradição vocal e poesia popular da Carélia, uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia. Tensas, por vezes ferozes, mas sempre harmónica e timbricamente muito belas, as vozes das Vârtina constituem um bálsamo para os ouvidos.
Tema obrigatório: Värttina (11) Emoni Ennen (2,58) “Kokko” (1996 Nonesuch)
Às 3,00h na Av. Da Praia, encerrou-se o Festival Músicas do Mundo, com a mais festiva música cigana, pelo clarinetista búlgaro Ivo Papasove a sua Wedding Orchestra. Líder da frenética e festiva Stambolovo (música de casamento), Ivo Papasov é também considerado um enorme criador de jazz, pela forma como interage com a sua orquestra e improvisa sobre os vários ritmos da sua Trácia natal.
Tema obrigatório: Ivo Papasovand His Bulgarian Wedding Band (2) Mano Marie Mamo (4,23) “Orpheus Ascending” (1889 Hannibal)
Em 2006 os "cantos" mais exóticos do mundo brotaram dos mais recôndidos "cantos" do planeta; das tendências menos conhecidas surgiram as mais interessantes propostas do mundo da música. O espaço "Cantos" do Mundo procura, assim, chamar a atenção para algumas das (suas) maiores referências musicais do ano:
Accentus Áustria - Romances Séfarades dans l'empire de la Sublime Porte (Arcana)
Ali Boulo Santo and Manding-Ko - Komo Féllé (Frikyiwa)*
Ali Farka Toure – Savane (World Circuit)
Boris Kovac & La Campanella - World After History (Piranha)*
Constantinople - Constantinople (Atma) * Delroy Wilson - Better Music Come: The Anthology (Trojan)* Dennis Alcapone - Guns Don't Argue: The Anthology 70-77 (Trojan)* Desmond Dekker - You Can Get It If You Really Want: The Definitive Collection (Trojan)* Diabolus in Musica - La Doce Acordance: Chansons de Trouvères (Alpha)* Electric Gypsyland 2 (Crammed Discs) Ensemble Jehan de Channey - Chants et Musiques du Moyen-Âge (Frémeaux & Associés)* Etran Finatawa - Desert Crossroads: Tuareg & Wodaabe Nomads Unite (World Music Network) Fin' Amor - Martin Codax: Cantigas de amigo (Pavane)* L' Ensemble Aromates - Jardin de Myrtes: Mélodies andalouses du Moyen-Orient (Alpha)* Les Fin' Amoureuses - Marions les Roses: Chansons & Psaumes, de la France à l’Empire Ottoman (Alpha)* Ludovico Einaudi/Ballaké Sissoko - Diario Mali (Ponderosa)* Maciej Malenczuk & Consort - Cantigas de Santa Maria (Warner) Mariem Hassan – Deseos (Nubenegra)* Millenarium - Chansons de Troubadours et Danses de Jongleurs (Ricercar)* Montserrat Figueras - Lux Feminae (900-1600) (Alia Vox) Music from the time of the Crusades (Virgin) Parissa & Ensemble Dastan - Gol-E Behesht (Network)* Qntal - Qntal IV: Ozymandias (Irond) Romica Puceanu & The Gore Brothers - Sounds from a Bygone Age, Vol.2 (Asphalt Tango) Sinfonye - Bella Domna: The Medieval Woman (Hyperion) Taffetas – Taffetas (Most)* Taos Amrouche - Chants Berbères de Kabylie (L'empreinte digitale)* Taraf de Haïdouks - The Continuing Adventures (Crammed Discs)* Tartit - Abacabok (Network) Tinariwen – Amassakoul/The Soul Rebel of African Desert (Emma)*
Toots & The Maytals - Pressure Drop: The Definitive Collection (Trojan)* Toumani Diabate's Symmetric Orchestra - Boulevard de L'Independance (World Circuit) World Circuit Presents... (World Circuit) Yanka Rupkina – Keranka (World Connection)*
* Estes discos têm data de edição anterior, mas só em 2006 foram divulgados em “O Templo das Heresias”