O ensemble Constantinople, fundado em Montreal (Canadá) em 1998 pelo iraniano Kiya Tabassian, consagrou-se na utilização de uma linguagem única e de uma visão nova e criativa face à interpretação das músicas tradicionais, bem como das da Idade Média e do Renascimento. O trabalho de recolha do grupo baseou-se num cuidadoso estudo dos manuscritos históricos e na sua aproximação à tradição oral do Próximo e do Médio Oriente, nomeadamente à clássica persa. Assim, os Constantinople debruçam-se sobre uma “fertilização cruzada” entre as diversas culturas musicais, sobretudo das áreas à volta do Mediterrâneo, nomeadamente a judaica, a árabe, a persa e a cristã. Para o efeito, convidam para as suas gravações uma grande quantidade de músicos de geografias diferentes, entre as quais se salientam os cantores Marco Beasley, Françoise Atlan, Savina Yannatou e Suzie LeBlanc; o griot Mandinka Ablaye Cissoko; o ensemble grego En Chordais, o duo belga Belem e o grupo americano The Klezmatics; o virtuoso do sarangi Dhruba Ghosh, o clarinetista e compositor sírio Kinan Azmeh e o mestre iraniano do kamancheh, Kayhan Kalhor. Naturalmente que os Constantinople se servem, também, de uma panóplia de instrumentos antigos, como o alaúde, a vihuela, a harpa medieval, a viola da gamba e a vièle, entre outros, bem como de instrumentos orientais, tais como o tombak, o daf, o santour, o oud, o setar (instrumento de cordas de origem persa) e o dayereh (espécie de tambor persa).
No destaque que hoje aqui fazemos, importa-nos salientar a colaboração dos Constantinople com o músico senegalês Ablaye Cissoko, exímio tocador de kora, que descende dos gritos Mandinka. Dessa fértil colaboração, nasceram os álbuns “Jardins Migrateurs” (2015) e “Traversées” (2018), editados pela etiqueta Ma Case.
Nesses projetos, os Constantinople & Ablaye Cissoko cultivam uma comunhão espiritual em que as linhagens persas envolvem subtilmente elementos clássicos do Ocidente e tradicionais da África Ocidental. Mas, ao contrário de tantos projetos de “fusão global”, “Jardins” e “Traversées” estabelecem um território verdadeiramente novo, decididamente o seu próprio, sem pretensiosismos ou preconceitos, convidando os ouvintes a participar numa viagem musical hipnótica, propícia ao sublime. Viola da gamba e percussão sustentam a kora, o setar e a voz e, numa simplicidade desarmante, promovem uma troca que evoca uma beleza sonora incomensurável.